PÓ
PÓ
ago 08Há momentos em que o sentimento da desimportância é maior que tudo. Tudo pode funcionar sem mim:
O padeiro vai continuar cedo na labuta, independente de eu não comer pão pela manhã.
O bombeiro vai soar a sirena ensurdecedora sem ligar pros meus sensíveis ouvidos.
O gari na matina trabalha… se durmo ou continuo insone… que lhe interessa se a sujeira de muitos lhe dá o sustento de cada dia?
Quantos sorrisos eu dei, quantas mãos apertei, quantas palavras proferi na ânsia de dizer algo significativo…ah…
Ah, manhã, grata pela tua presença, mas a noite é que me acorda para quão pouco preciso ou quão pouco sou precisada.
Louvado é o mundo que funciona livre de nossas frágeis presenças!
E, um dia, o pó que servirá de alimento para sonoros ou silenciosos hospedeiros seguirá no terreno, alimentando andorinhas que pousarão na pitangueira farta de mim.
Repleta de mim.
Distante de mim.
…
Nesta minha comum desimportância.
Magna, deixe essas reflexões para mim, um setentão, tempo propício a esse tipo de balanço existencial A pitangueira demorará ainda muito tempo para se fartar de você; e as andorinhas, coitadas, terão que buscar outras opções para não morrer de fome…
Nem vou me ocupar em demonstrar a importância do seu papel num mundo que necessita muito mais de você do que de padeiros, bombeiros e de garis. Apenas direi que muitos dependem do seu sorriso, do seu aperto de mão e, sobretudo, da sua palavra densa de significação e de Poesia.
Meu amigo, tua generosidade a cada dia se expande sem limites. Muito obrigada. Mas, ai de nós se não fossem os padeiros, garis e bombeiros. O mundo estaria sem pão, sujo e um perigo constante sem socorro.
Quanto às reflexões, quem de nós tem a certeza de quem vai primeiro? Ilusão, meu querido amigo.
Somos esse pó mesmo. Como ainda não sei incluir música aqui(Dimas, socorro!), deixo o acesso para um vídeo(o único que encontrei), cuja música é por demais apropriada para este escrito. Oswaldo Montenegro antes de cantá-la(no seu disco Letras Brasileiras) fala da paz que pensar nisto(ser pó) pode trazer, sobretudo, naqueles momentos difíceis. A autoria é de um compositor de Brasília.
Abração.
Magna
https://www.youtube.com/watch?v=EJL5BBxUTUw
Cada morador desse mundo com a sua devida importância (ainda que muitos não os considerem), e a vida em sua ampla cadeia, acontecendo e todos acontecendo juntos…
Belíssima reflexão, Magna, sem dúvida!
Beijo!
Cadeia, cascata…neste eterno sistema chamado vida.
Obrigada, Val.
Beijão!
Magna
Magna,
Bem o sei a diferença entre a tristeza do indivíduo e a do escritor. A do indivíduo só a ele pertence, enquanto a do escritor pertence aos seus personagens e reflete a sua visão do mundo. O escritor não precisa sentir propriamente a dor. Basta apenas que tenha os olhos abertos e o coração sensível. E isso você fez com maestria.
Estava com saudades do Sementeiras.
Dimas Lins
Dimas, apesar de já ter conversado contigo sobre este comentário, não resisti em te dizer: eu também estava com saudades de você aqui no Sementeiras.
Obrigada.
Abraço.
Magna
Magníssima,
sim, somos só um pozinho, um pozinho de nada… mas cada grãozinho mínimo é essencial e carrega consigo a grandeza do universo. Vc, certamente, não tem ideia de sua importância. E, claro, o mundo vai continuar existindo sem nós. Mas o que a gente escreveu, falou e, principalmente, a forma como a gente agiu com nossos amigos e no nosso mundo… tudo isso deixa marcas e rastos que não se apaga.
Ô, Fabi, ainda preciso responder teu email, mas deixa logo eu te dizer: saber que sou pó me dá um conforto danado.
Beijão!
E muitíssimo obrigada.
Magna